terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Zona de Conforto 2: Sem conservas!

 “Partimos da vida, única e exclusivamente dela”
Anônimo
Seria uma obsessão marxista tentar destruir o capitalismo? Acredito que sim, e nisso existe uma vontade criadora, aquilo que certamente seduziu grupos de artistas desde os anos 60 e suas erupções contra as instituições de todas as partes de globo, inclusive da América do Sul,  como é o caso de Tucumán Arde³, onde em 68, uma série de artistas se reuniram para compor uma resposta ao Regime Militar argentino na cidade de Rosário , nomeados recentemente em uma historiografia decolonial da arte de Conceitualismo do Sul⁴. A vontade criadora nesse caso é motivada por uma posição ética e logo política quanto à existência de si, e certamente as substâncias vitais que compõe aquilo que o artista produz, no caso de Tukumán é foi o regime de dominação vigente que retirava a liberdade de modo arbitrário e violento através da coação física. Quando deixamos de nos perguntar o que é tal coisa, resta apenas o como tal coisa vem a ser o que vemos. Essa herança wittgensteiniana  abre o tempo de realização da ação ao acontecimento, ao devir, que no contexto sempre servira ao presente e sua atualização na vida e para a mesma.
Em Caosmose: um novo paradigma estético⁵, Guattari propõe uma nova abordagem a concepção de estética existencial, diferentemente da construção  foucaultiana muito recorrida recentemente pelos estudos pós-estruturalistas⁶. Para Guatarri, a sociedade atual e todos os seus focos de singularização da existência, estão recobertos pela valorização capitalística. O reino da equivalência geral, a semiótica reducionista, o mercado capitalístico, tendem a aumentar o sistema de valorização. Esse paradigma é estético! E se apresenta como uma alternativa ao paradigma cientificista que subtende o universo da abstração capitalista
estando ligado a criatividade. No entanto, não se trata de uma abordagem artística de estetizar mais ainda o mundo, ou que o cognitariado artístico seria responsável por tal desafio. Nada disso coincide com o mundo dos artistas ou com o mercado da arte. Estaria diretamente relacionado a um processo de distanciamento ao imperativo do Individuo Soberano ante a multiplicidade da vida.
Como relacionar tal conceito com as guerrilhas estéticas que cartografei: Explicitando o caráter desindividualizante dos mesmos, analisando os focos parciais de subjetivação que se impõe fora das relações intersubjetivas, e também no movimento de abandono a um dos maiores mitos modernos, o Eu.  Para isso foi preciso trazer a tona agrupações coletivas de propostas artísticas onde a figura do Ser, completo e individual, nesse caso o Artista, não estivessem presentes, ironizando assim o “há quem pertence esse trabalho?” ou mais diretamente, onde a noção de propriedade intelectual não fosso determinante a ação em si. Aqui não importa quem fez, mas como isso pode significar uma arte de material vivo, mas que uma categoria de pensamento, nas palavras de Guatarri: “o importante é saber si uma obra ocorre efetivamente a uma produção transformadora no enunciado”.

Dessa maneira, a arte é liberada no seu encontro com a desterritorialização, nesse caso da norma, das instituições de saber e do controle biopolítico⁷- pois não serve a conservação de um simbolismo, ou de um ethos que eleve o acontecimento ou objeto a uma valoração moral no sistema capitalista.  A ação aqui deve ser capaz de produzir uma turbulência no contexto onde a mesma acontece.  Rompe-se a Zona de Conforto que conserva a vida isolada de sua realidade política, portanto criadora de novas realidades

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