terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Zona de Conforto 1: Cultura

“Todo infrator é criador”

F. Nietzsche
A Escola de Frankfurt soube por anos responder conceitualmente a miséria causada pela indústria de massa à vida cotidiana, ao modo como nos relacionamos com a arte, ou como fetichizamos os produtos da indústria cultural pelo consumo sempre exacerbado de bens que são mais úteis ao simbolismo partilhado que a sua função utilitária. No entanto poderíamos retomar aqui uma critica feita por Guatarri ¹ que se refere a cultura, a magia de seus bens e aos que por esse conceito ainda são orientados, como algo intrínsicamente reacionário.
Os mercados econômicos dentro desse conceito de Cultura, são responsáveis pela atomização das atividades semióticas do mundo social e cósmico em esferas padronizadas: instituídas potencialmente ou “realmente” capitalizadas para o modo de produção de semiotização dominante. Assim, cortadas estariam de suas realidades políticas, ou seja, de sua capacidade autônoma de produção, de criação e de consumo real – onde o capitalismo se ocuparia da sua sujeição econômica e a Cultura de sua subordinação subjetiva, podendo-se afirmar então que nada mais estaria apenas reduzido a lógica de mais valia econômica (lucro), mas também, na tomada de poder da subjetividade.
Para uma possível atualização de Adorno², e sua feroz crítica a indústria cultural em meados dos anos 60, pode-se afirmar que esse mesmo fluxo de consumo apenas não produz indivíduos consumidores representados enquanto tal pelo capitalismo, mas sim um corpo isolado de sua capacidade criadora ligado ferozmente a um desejo em normalizar-se por aquilo que toca. Assim, tudo o que pela indústria de massa é abarcado, incluindo a produção de arte e seu dogma do possível apenas abaixo ao Estado, compõe o agenciamento perfeito do império normalizante de indivíduos, onde sua ação reside na inclusão dos mesmos nos mercados econômicos sejam eles quaisquer, afinal a Cultura vista por esse ângulo seria a responsável por tal inclusão.
Se até mesmo a Cultura – sonho iluminista, democrata e por fim socialista - leva ao assujeitamento, estando obviamente sobre o mesmo fardo tudo aquilo que por ela se move, colocaria nesse espaço então a produção de arte contemporânea, onde poderíamos retomar o velho clichê de vida e arte, perguntando-nos se essa ligação ainda pode ser feita quando explicitamente agenciada pelo capitalismo mundial integrado, CMI em termos de Deleuze e Guatarri. A Cultura nessa pesquisa é apontada como uma Zona de Conforto, e os grupos e ações trazidas à luz dessa escrita buscam compor uma linha de fuga desse terreno em expansão desde a modernidade. 

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