“Partimos
da vida, única e exclusivamente dela”
Anônimo
Seria uma
obsessão marxista tentar destruir o capitalismo? Acredito que sim, e nisso
existe uma vontade criadora, aquilo que certamente seduziu grupos de artistas
desde os anos 60 e suas erupções contra as instituições de todas as partes de
globo, inclusive da América do Sul, como
é o caso de Tucumán Arde³, onde em
68, uma série de artistas se reuniram para compor uma resposta ao Regime
Militar argentino na cidade de Rosário , nomeados recentemente em uma
historiografia decolonial da arte de Conceitualismo
do Sul⁴. A vontade criadora nesse caso é motivada por uma posição ética e
logo política quanto à existência de si, e certamente as substâncias vitais que
compõe aquilo que o artista produz, no caso de Tukumán é foi o regime de dominação vigente que retirava a liberdade
de modo arbitrário e violento através da coação física. Quando deixamos de nos
perguntar o que é tal coisa, resta
apenas o como tal coisa vem a ser o
que vemos. Essa herança wittgensteiniana abre o tempo de realização da ação ao
acontecimento, ao devir, que no contexto sempre servira ao presente e sua
atualização na vida e para a mesma.
Em Caosmose: um novo paradigma estético⁵,
Guattari propõe uma nova abordagem a concepção de estética existencial,
diferentemente da construção foucaultiana muito recorrida recentemente
pelos estudos pós-estruturalistas⁶. Para Guatarri, a sociedade atual e todos os
seus focos de singularização da existência, estão recobertos pela valorização
capitalística. O reino da equivalência geral, a semiótica reducionista, o
mercado capitalístico, tendem a aumentar o sistema de valorização. Esse
paradigma é estético! E se apresenta como uma alternativa ao paradigma
cientificista que subtende o universo da abstração
capitalista
estando ligado a
criatividade. No entanto, não se trata de uma abordagem artística de estetizar
mais ainda o mundo, ou que o cognitariado artístico seria responsável por tal
desafio. Nada disso coincide com o mundo dos artistas ou com o mercado da arte.
Estaria diretamente relacionado a um processo de distanciamento ao imperativo do
Individuo Soberano ante a
multiplicidade da vida.
Como relacionar
tal conceito com as guerrilhas estéticas que cartografei: Explicitando o
caráter desindividualizante dos mesmos, analisando os focos parciais de
subjetivação que se impõe fora das relações intersubjetivas, e também no
movimento de abandono a um dos maiores mitos modernos, o Eu. Para isso foi preciso
trazer a tona agrupações coletivas de propostas artísticas onde a figura do Ser, completo e individual, nesse caso
o Artista, não estivessem presentes, ironizando assim o “há quem pertence esse
trabalho?” ou mais diretamente, onde a noção de propriedade intelectual não
fosso determinante a ação em si. Aqui não importa quem fez, mas como isso pode
significar uma arte de material vivo, mas que uma categoria de pensamento, nas
palavras de Guatarri: “o importante é saber si uma obra ocorre efetivamente a
uma produção transformadora no enunciado”.
Dessa maneira, a
arte é liberada no seu encontro com a desterritorialização, nesse caso da
norma, das instituições de saber e do controle biopolítico⁷- pois não serve a
conservação de um simbolismo, ou de
um ethos que eleve o acontecimento ou
objeto a uma valoração moral no sistema capitalista. A ação aqui deve ser capaz de produzir uma
turbulência no contexto onde a mesma acontece.
Rompe-se a Zona de Conforto que
conserva a vida isolada de sua realidade política, portanto criadora de novas
realidades.